quinta-feira, 24 de março de 2011

A Senhora Música Portuguesa - Feromona

Se perguntarmos na rua ainda poucos conhecem B Fachada. O músico de Cascais (palpito que as tias emprestem-lhe peças de roupa em desuso) é subvalorizado? Não me parece. Curiosamente, em relação à sua música, discute-se mais a suposta sobrevalorização – neste caso, sem perceberem, os haters valorizam. Sobre ele uma última nota antes de avançar: constitui o melhor que aconteceu à pop portuguesa desde qualquer outra coisa sucedida lá para trás.
Se perguntarmos na rua, e se tivermos azar no dia, ninguém conhece os Feromona. Aqui já há subvalorização. A falta de atenção dada pela imprensa e o desconhecimento mostrado pelos jovens mais atentos são gritantes – é paradoxal ser atento e ignorar os Feromona, mas sigamos em frente. Tal como Nuno Prata (baixista dos Ornatos Violeta) a banda lisboeta sofre por ser discretíssima, e só a sua qualidade indiscutível quebra os efeitos dessa particularidade. Porquê o desdém quando esta deveria ser a banda de toda uma geração?
Uma Vida a Direito (2008) soube ser download gratuito. Se ninguém conhece os Feromona, ninguém dará nada pelos Feromona. Nos tempos actuais esta seria a melhor gestão das estreias. A natural sinceridade, por vezes cruel, já se fazia adivinhar por aí. Na música as guitarras confirmam a secura da banda, que apesar do lirismo recomendável, tem como tentação principal cantar umas verdades atravessadas (apontar para a garganta) há algum tempo e não quer que o ouvinte se alheie muito delas. Aceitam a influência dos inevitáveis Ornatos Violeta, mas rejeitam o romantismo à flor da pele de Manel Cruz e quaisquer artifícios sonoros que mostrem ambição. Acabam por incentivar mais à letargia de um olhar mordaz que a um grito de revolta efectivo. São os maiores, portanto. Conservadorismo? Não se trata disso. É um meio-retrato da nossa geração – uma geração desiludida, mas não tão corrosiva. Por isso o encanto pela facilidade dos Deolinda (nada contra). Precisamos dos Feromona, e Desoliúde (2010), segundo disco, mereceria ser ouvido por todos os jovens portugueses. E quando há um tímido murro na mesa melhor ainda:

"Agora aqui é sempre a mesma pobreza, a mesma desistência. Até as vitórias são forjadas. E nem as derrotas são feitas de dor genuína. Como é que uma pessoa pode sentir dores a sério se isto, nada disto é a sério, nada acontece, e as coisas que surgem são imitações das verdadeiras coisas? Isto não é Hollywood, bebé..."
(Isto não é Hollywood, álbum Desoliúde)


Psicologia não teve o reconhecimento de Amor Combate dos Linda Martini, de Vá lá Senhora! d’Os Golpes ou de Dona Ligeirinha dos Diabo na Cruz, e é uma pena. A melodia desorientada é uma fabulosa cama para a crítica feita aos desorientados só porque sim. De todas as novas bandas portuguesas os Feromona são definitivamente a minha preferida. E mereceriam muito mais que este tosco comentário.

António Vieira
 

3 comentários:

  1. O ano passado o meu irmão fazia-me ouvir feromona all the time.. principalmente a música psicologia. Gostei do post, tens razão naquilo que dizes, António. Keep up the good work :)

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  2. Toda uma maturidade escrita. Muito bem mesmo, :D

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